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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Felicidade Clandestina

Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz

De volta pra Casa

No outro dia, vendo aquela famosa fotografia do marinheiro beijando a moça no Times Square de Nova York, nas comemorações pelo fim da Segunda Guerra Mundial, me dei conta de que eu não devia estar muito longe dali. Voltávamos para o Brasil depois de dois anos passados na Califórnia, onde meu pai lecionara na universidade estadual, e íamos pegar o navio em Nova York. Eu tinha oito anos. Lembro pouco daqueles dias. Na verdade, só lembro com clareza de duas moças que passeavam nuas dentro do quarto num edifício em frente ao nosso hotel, sem qualquer relevância histórica.
Na época eu não teria prestado atenção, mas mesmo nos dez ou quinze anos seguintes se falou pouco, nos Estados Unidos, sobre as implicações morais das bombas de Hiroshima e Nagasaki que acabaram com a guerra. O presidente que autorizou os ataques, Harry Truman, morreu sem qualquer dúvida. Tinha matado alguns milhares para salvar a vida dos milhões que morreriam numa invasão do Japão. Hoje isto é contestado. Uma amostra sem vítimas do que as bombas fariam e um sinal de que os americanos pretendiam concordar com o que afinal concordaram, preservar o imperador depois da ocupação, teriam apressado a rendição japonesa. Mas a mediocridade política e a estupidez militar são seus próprios álibis. (Veríssimo 1997:104)