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sábado, 15 de maio de 2010

Nogueira - RJ : sensações e descobertas... (nostalgia)

Estávamos saindo da escola... Meu estômago parecia estar cheio de borboletas, não conseguia desviar minha ansiedade para poder parar em mim mesmo e pensar um pouco sobre a vida. Impossível; pois além da minha ânsia em chegar logo a Nogueira para poder lembrar um pouco do frio da minha cidade, e conhecer mais sobre aquele lugar onde nosso Imperador passava o verão, os guris estavam a cantar sertanejo durante todo o trajeto. Não que eu não goste, mas era impossível manter a concentração em algo com as desafinadas e, principalmente, com as letras do ritmo do Centro-Oeste brasileiro.
Muitas sensações foram “experimentadas” durante o percurso de ida. O sentimento de estar indo para casa vinha a minha cabeça a todo instante ao perpassar a Serra. As montanhas me remetiam a Serra Gaúcha, que fica a caminho da minha cidade. A música já não me atrapalhava mais; para mim pouco importava o que estava sendo tocado e cantado; sentia o cheiro de nostalgia no ar.
Durante a subida à Petrópolis parecia que eu estava deixando os pesos do dia a dia e estava pegando, aos poucos, na minha liberdade. Quanto mais subíamos, mais me sentia livre e mais tinha vontade de pegar essa liberdade que aflorava a minha pele.
Paramos no SESC Quitandinha e fomos conhecer aquela maravilhosa arquitetura que já foi hotel, casa de jogos, cenário de novela, condomínio. Quase tudo era original. O sentimento de já ter vivenciado tudo aquilo me arrebatava a todo instante; milhares de “Déjà vu” aconteciam... A decoração era maravilhosa e me tive a oportunidade de me observar naquela “mansão”; eu já estava fora de meu corpo. Vivia momentos de paz. A história daquele lugar atingia o meu pensamento e me fazia sentir as emoções já sentidas tantas vezes ali.
O meu olhar não era mais o mesmo. À medida que íamos nos organizando para voltar ao ônibus ia me sentindo agoniado, pesado. Parecia que o sentimento de liberdade estava me abandonando, cedendo lugar ao desespero, cedendo lugar aos não bons pensamentos. Deveria ser cansaço, não sei. Talvez os momentos que vivi no Quitandinha, naquela visita, me proporcionaram tal indisposição, pois era como visitar o meu passado.
Subimos no ônibus com os nossos sucos. Mais uma vez estava sozinho no banco do veículo. Naquele momento era necessário estar sozinho, era necessário pensar. O pôr do Sol se fazia presente e quando chegamos a Nogueira, bairro de um distrito de Petrópolis, já era noite e a agonia tinha se transformado em inquietação, irritação.
Pegar a chave, o controle e a água. Arrumar as malas no elevador. Subir as escadas e pegá-las. Quarto 301. Cama do lado da TV. Sacada de frente pras montanhas. Chuveiro desregulado.
Tomei banho e fiquei bem. Fui jantar com os guris e depois fomos à Festa Alemã. Voltei a ficar ansioso, estava louco para que a festa começasse para que eu pudesse reviver um pouco da cultura do meu estado. A festa começa ao som de “Ein prosit der Gemütlichkei”. Meu coração estava acelerado e o sorriso estava estampado em minha face. A alegria tomava conta de mim, nunca tive a sensação de estar tão “em casa” não estando “em casa”. Dancei, cantei, caminhei. A explosão de alegria me regia. Meus pés doíam. Dormi como nunca tinha dormido antes.
Saímos pela cidade e as sensações continuaram. Caminhar pelas ruas de Petrópolis nos dias atuais era a mesma coisa que caminhar lá na época do Império. O ar da cidade me enchia de esperanças e recuperava meus ânimos para o retorno.
O céu era azul, a temperatura era agradável. Descobria uma cidade irmã da minha. O tempo passava rápido, de uma forma que o tempo de nossa visita parecia estar reduzindo e já começava a sentir saudades daquele lugar.
Saímos do hotel. Deixei minha mala no bagageiro e entrei no ônibus. Não estava mais sozinho no banco, o que não me impedia de estar mal. Eu ainda estava sozinho, mesmo acompanhado. Descemos a Serra. Meu ouvido doía por motivo da diferenciação de altitude. Em instantes chegamos a escola. Estava vazio de sentimentos, mas ao mesmo tempo cheio de sensações vivenciadas, talvez fossem sensações vazias, revividas durante os curtos três dias de viagem. Chegava em meu quarto e agora, sem precisar estar com a garrafa de água, nem dormir do lado da TV, cansado, a esperar por aquilo que já aconteceu. Redescoberta.

Créditos ao autor: Renan Portolan.

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